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A implantação da Zona Franca em Manaus (ZFM), única política pública para a economia da região financiada pelo governo federal, trouxe conseqüências sociais de grande impacto, afetando os alicerces das formas de organização sócio-econômica, cultural e política, encontradas na região. Na ótica capitalista, o modelo Zona Franca canalizou toda a sua lógica e seus princípios na Amazônia, fazendo cumprir a estratégia do processo de mundialização da economia e do capital, da nova lógica da divisão internacional do trabalho, que culminou na integração da Amazônia ao Estado Nacional e sua inserção na esteira do capitalismo mundial.
Esse pólo atrativo de desenvolvimento provocou o êxodo rural e, por efeito, o inchaço e a urbanização desordenada da capital, a favelização da cidade e inclusive o surgimento contínuo de novos bairros, sem as condições mínimas de infra-estrutura. O aumento populacional de Manaus elevou consideravelmente a demanda por serviços públicos de saúde, educação, transporte, saneamento básico que não foram supridos pelo Estado.
O que se percebe é que a oferta de emprego até hoje é extremamente limitada em relação a este enorme contingente populacional que cada vez mais migra para a capital; vivendo-se com um baixíssimo salário, revelam-se os sérios vícios do modelo que o tomou como condição primeira para a sua implantação no Amazonas.
A notícia do desmonte da Zona Franca de Manaus tem mobilizado algumas forças políticas e econômicas porque representaria o próprio desmonte das instituições do Estado, e isto implicaria na redução das possibilidades de trabalho e empregos na região, na precarização dos investimentos econômicos e uma deficiência na prestação de serviço público.
O modelo Zona Franca não significou necessariamente o progresso equitativamente distribuído, que pudesse promover socialmente os manauenses. É só visualizar o padrão de qualidade de vida das pessoas; houve, na verdade, um decréscimo e os problemas urbanos se agudizaram; a cidade se empobreceu e seus dramas continuam nos perplexificando, tais como a pobreza, a insegurança, índices alarmantes de criminalidade, degradação da vida humana, sem se falar nas dificuldades das populações rurais.
Mais da metade da população sobrevive hoje com um salário irrisório, vivendo em condições sociais precárias, acentuando as condições catastróficas de habitação e o alargamento do subemprego e desemprego. Tal contexto tem contribuído para o aumento do índice dos problemas sociais relacionados com a delinqüência e violência urbana, a ação de “gangues”, de quadrilhas e grupos de extermínio, corrupção policial, tráfico de drogas e outros.
Temos percebido o engessamento do Estado e sua incoerência em não investir em novas alternativas econômicas de integração regional que possa aumentar a sua receita, ampliar a economia regional e gerar empregos diretos e indiretos. Precisamos refletir sobre a enorme dependência econômica e social que a região tem desse modelo. O que significaria a extinção da ZFM? O caos social? O Estado faliria?
Pensar o futuro da Amazônia pressupõe considerar a questão do modo histórico de desenvolvimento econômico que se adotou e precisamos refletir acerca do modelo de atividades industriais e como tem impulsionado o desenvolvimento sustentável da Amazônia e suas implicações na geopolítica e na economia regional.
A Zona Franca, que tem enfrentado enormes impasses para a sua manutenção, ainda é o modelo que pode garantir todos os benefícios alcançados para o Amazonas, mesmo sendo ínfimos. Superar as fronteiras e alargar as perspectivas em termos de desenvolvimento auto-sustentável da economia do Estado é um desafio. Este modelo sozinho não significa uma alternativa consistente e única, para resolver eficazmente os problemas regionais, no sentido de pelo menos reduzir os dramas da maioria da população manauense.
Qualquer programa de desenvolvimento regional não pode pensar jamais em romper com o contexto sócio-ambiental amazônico; jamais poderá ignorar a riqueza da biodiversidade e do conhecimento tradicional dos povos da floresta; é necessário ter cautela para que não se torne um reprodutor de enormes bolsões de miséria nas periferias das cidades.
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