quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O Caboclo Amazônico e suas Práticas Religiosas


O homem que vive na Amazônia brasileira tem como principal prática religiosa o catolicismo. Mesmo sendo eminentemente católico, transita no universo das superstições e crendices que fazem parte do seu cotidiano cultural. Esta religiosidade se expressa através da devoção aos santos católicos e da reunião de diferentes comunidades, em momentos específicos, para celebrarem seus padroeiros.
Várias comunidades passam grande parte do ano se preparando para a participação em festas religiosas católicas numa demonstração de fé, de agradecimento por benefícios alcançados e renovação dos pedidos que fazem à imagem do santo protetor.
As novenas, o culto, a missa, a quermesse, as festas religiosas, as procissões não se caracterizam apenas por prestarem homenagens a santos do catolicismo, mas também por servirem de momentos de confraternização coletiva entre várias famílias e comunidades. Certamente são respostas simbólicas às mudanças sociais e ao processo de secularização do sagrado, produzidos pelos novos processos sociais que se realizam na Amazônia; são maneiras de resistir e manter relações e identidades diante de novas práticas e valores sociais.
Mesmo sendo um católico, o caboclo amazônico compartilha de uma concepção de universo impregnada de idéias e crenças oriundas da sua ancestralidade ameríndia. Em várias comunidades amazônicas, a ausência da igreja oficial não impedia que os devotos praticassem sua fé, suas crenças e suas devoções; nem significava que eram anti-religiosos. A própria população responsabilizava-se pelas atividades religiosas; as beatas e os beatos constituíam-se importantes líderes religiosos, devotos, “árbitros religiosos e morais” de suas comunidades correspondentes.
A população vive sua catolicidade ao seu modo, imprimindo suas particularidades teológicas, sociológicas e antropológicas. Acreditam que Deus e Cristo são adorados, apesar da virgem Maria e os santos terem maior evidência na religião local. O culto aos santos e a organização de irmandades religiosas não são típicas e nem exclusivas da religião do caboclo da Amazônia, tendo em vista a difusão dessas instituições em outras áreas brasileiras; tais instituições se revestem de um característico regional: a forte influência ameríndia, revelada em crenças e práticas religiosas dessa origem. Estas crenças se referem aos curupiras, aos anhangás, a cobra-grande, a matinta-perera, os botos e outros. Cada qual apresenta um conteúdo de “verdade”, estão recheados de valores aos olhos de quem os cultuam e os temem; além de outras crenças como os “companheiros do fundo”, as “mães de bicho”, os “bichos visagentos”, a “panema”, a “pajelança”, ou as “rezas”.
Os santos, ao contrário dos bichos visagentos, recebem culto e veneração, e com eles o caboclo estabelece relações através de orações, de promessas e de atos festivos; acredita-se que eles têm a função de proteger a comunidade e o indivíduo. A promessa cria um laço estreito de comprometimento entre o devoto e o santo. As crenças católicas misturam-se às crenças em poderes sobrenaturais e às práticas mágicas de origem nativa.
A Amazônia é uma terra onde existe uma espécie de amalgamação religiosa, onde a cosmovisão do mestiço e do caboclo amazônico foram assim convertendo-se numa intrincada amálgama de ideologia nativa e européia.
Compreender a formação do sistema religioso do caboclo que se estabelece singularmente na Amazônia, os processos que o diferencia etnicamente de outras identidades existentes e como ele interpreta a sua realidade a partir desses modelos conceituais é uma área que precisa ser estudada.

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